Da liquidez dos géneros: retrato, paisagem, ecorretrato

Abstract

Acusando o descentramento do retrato em relação a paradigmas filosóficos ainda ancorados nos conceitos de sujeito como individualidade e de identidade como identificação, as práticas retratísticas contemporâneas têm vindo a reconfigurar inovadoramente as relações do retrato com as categorias do espaço e do tempo. A transferência funcional do papel expressivo do rosto para o corpo, que se observa em especial no Pós-modernismo artístico — um corpo que se percebe fenomenologicamente integrado no mundo e que não cessa de transformar-se, apresentando-se menos como ‘forma’ acabada e mais como ‘formação’ em contínuo processamento e mudança —, exige que pensemos uma nova epistemologia retratística atenta a fenómenos de limiar e a possibilidades de confluência e liquidez entre géneros, como aquelas que aqui procuraremos investigar a partir das ideias de paisagem-retrato e de retrato-paisagem até ao limite hipotético da indiferenciação genológica, ideia que o termo aqui proposto de ecorretrato poderia consubstanciar.