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https://hdl.handle.net/1822/9809
Título: | Preditores psicossociais do ajustamento à doença e tratamento em mulheres com cancro na mama : o papel do estado emocional, das representações |
Autor(es): | Fernandes, Susana Maria Rodrigues |
Orientador(es): | McIntyre, Teresa |
Data: | 7-Set-2009 |
Resumo(s): | O presente estudo teve por objectivo examinar o ajustamento psicossocial ao
cancro da mama, até um ano após o diagnóstico, no que refere ao estado emocional, às
representações de doença, coping, funcionalidade e benefícios percebidos. Procurou-se
ainda, estudar o papel do estado emocional, das representações de doença e do
optimismo, no coping e na funcionalidade. Este trabalho foi realizado numa amostra
portuguesa de mulheres recentemente diagnosticadas com cancro da mama e que iam
iniciar os seus tratamentos na Unidade da Mama do Instituto Português de Oncologia do
Porto (N=74). O desenho do estudo é do tipo longitudinal, sendo as pacientes avaliadas
em 4 momentos: antes da cirurgia (planeamento cirúrgico), duas semanas após a
cirurgia, durante os tratamentos complementares e no final dos tratamentos (entre os 9 e
os 12 meses, após o planeamento cirúrgico). Foram utilizadas as versões portuguesas
dos seguintes instrumentos de avaliação: o Hospital Anxiety and Depression Scale –
HADS, para avaliar o ajustamento emocional; o Brief Illness Perception Questionnaire
– B-IPQ, para avaliar as representações de doença; o Mental Adjustment to Cancer
Scale – Mini-MAC, para avaliar o coping; o Sickness Impact Profile – SIP, para avaliar
a adaptação funcional à doença; o Life Orientation Test – LOT-R, para avaliar o
optimismo disposicional; e o Benefit Finding Scale –BFS, para avaliar os benefícios
percebidos. A Hipótese 1 previa que o ajustamento psicossocial ao cancro da mama, em
termos de respostas emocionais, representações de doença, coping e funcionalidade,
variasse ao longo do processo de tratamento (planeamento cirúrgico, após cirurgia,
durante o tratamento complementar e no final dos tratamentos). A Hipótese 2 previa que
as mulheres submetidas a tumorectomia tivessem um ajustamento psicossocial mais
positivo (níveis mais baixos de ansiedade e depressão, representações e respostas de
coping mais adaptativas e maior funcionalidade) do que as mulheres submetidas a
mastectomia. A Hipótese 3 previa que as representações de doença e do tratamento, e o
estado emocional, fossem preditores significativos do coping e da funcionalidade, em
cada momento de avaliação. A Hipótese 4 previa que as representações de doença e o
estado emocional antes dos tratamentos fossem preditores significativos da
funcionalidade e do coping após a cirurgia ou durante os tratamentos complementares.
A Hipótese 5 previa que o optimismo fosse um preditor significativo do ajustamento
psicossocial (estado emocional, representações de doença, coping e funcionalidade) do cancro da mama, após a cirurgia e durante os tratamentos complementares. A Hipótese
6 previa que os benefícios percebidos aumentassem no tempo (do meio do tratamento
para o final do tratamento) e que fossem preditores significativos do ajustamento
emocional à doença, da funcionalidade e das estratégias de coping utilizadas, durante os
tratamentos complementares. Foram ainda realizadas análises exploratórias sobre a
influência das variáveis sócio-demográficas (idade e escolaridade) e clínicas (o estatuto
de menopausa e o estádio da doença), nas variáveis psicossociais. A Hipótese 1 foi
confirmada para uma grande parte das variáveis psicossociais em estudo,
nomeadamente para a Depressão; para a maioria das representações de doença,
designadamente para o Controlo de Tratamento, a Identidade, a Preocupação e a
Compreensão; para as estratégias de coping, Preocupação Ansiosa e Evitamento
Cognitivo; e na funcionalidade para os Cuidados Pessoais, as Tarefas Domésticas e o
Sono. Verifica-se que existe variabilidade no ajustamento psicossocial à doença ao
longo do processo de tratamento. A Hipótese 2 não se confirmou para a grande maioria
das variáveis, com excepção da Compreensão e do Lazer, favorecendo as mulheres
mastectomizadas. A Hipótese 3 foi confirmada para grande parte das estratégias de
coping e para várias categorias da funcionalidade, nas várias fases do tratamento. O
estado emocional e as representações de doença foram preditores da adaptação
psicossocial à doença, o que apoia, nesta amostra, o modelo de auto-regulação da
doença de Leventhal. O estado emocional e as representações de doença são preditores
significativos das seguintes estratégias de coping, antes da cirurgia: Desânimo-
Fraqueza, Preocupação Ansiosa e Espírito de Luta; após a cirurgia, da Preocupação
Ansiosa e do Espírito de Luta; e durante os tratamentos complementares, da
Preocupação Ansiosa. Quanto à funcionalidade, o estado emocional e as representações
de doença são preditores significativos da Locomoção, Mobilidade e Actividades
Sociais após a cirurgia e dos Cuidados Pessoais, da Mobilidade, do Alerta e Sono,
durante os tratamentos complementares. A Hipótese 4 foi confirmada parcialmente,
tanto para o coping como para a funcionalidade. O estado emocional ou as
representações de doença antes da cirurgia, são preditores significativos do coping e da
funcionalidade após a cirurgia, sendo preditores conjuntos para a Locomoção e Alerta.
Quanto aos preditores do coping e da funcionalidade durante os tratamentos
complementares, verificou-se que o estado emocional antes da cirurgia é o principal
preditor das estratégias de coping durante os tratamentos complementares. O estado
emocional ou as representações de doença foram preditores pontuais da funcionalidade durante os tratamentos complementares. Os resultados apoiam a H5 na sua globalidade,
que previa que o Optimismo fosse preditor do ajustamento psicossocial à doença, após a
cirurgia e durante os tratamentos complementares. O Optimismo revelou-se um
preditor importante das representações de doença, do coping e funcionalidade.
Assumiu-se quer como preditor directo, quer indirecto, ou seja, mediado pelo estado
emocional. A Hipótese 6 confirmou-se, em parte, demonstrando que os benefícios
percebidos aumentam com o passar do tempo, e que são um preditor do uso de várias
estratégias de coping, durante os tratamentos complementares. O papel dos Benefícios
Percebidos em relação à funcionalidade é limitado e os Benefícios Percebidos não
foram preditores significativos do estado emocional durante os tratamentos. A idade e
escolaridade são variáveis importantes no ajustamento à doença e tratamento,
apresentando as mulheres mais novas ou as que têm menos do que o ensino básico,
maior vulnerabilidade psicossocial. As variáveis clínicas estádio da doença e estatuto
da menopausa tiveram impacto limitado nas variáveis psicossociais estudadas. No final
do capítulo dos Resultados, foram discutidas as limitações do estudo em termos da sua
validade interna e externa. Finalmente, foram discutidas as implicações dos resultados
em termos de investigação futura e no desenvolvimento de programas de intervenção
que facilitem o processo de ajustamento ao cancro da mama nas mulheres portuguesas. The aim of this study was to examine psychosocial adjustment to breast cancer, during treatment, in terms of emotional state, illness perceptions, coping, perceived functional limitations and benefit finding. Furthermore, we tried to understand the role of emotional state, illness representations and optimism, in coping and perceived functioning. The participants were 74 Portuguese recently diagnosed breast cancer patients, recruited in the main Oncology Hospital of the Northern region of Portugal. The study design is longitudinal with four time points: before surgery (baseline); two weeks after surgery, during adjuvant treatments (4 months after baseline); and at the end of adjuvant treatment (9 to 12 months after baseline). Measures included the Portuguese versions of: the Hospital Anxiety and Depression Scale (HADS), to assess emotional state; the Brief Illness Perception Questionnaire (B-IPQ), to evaluate illness representations; the Mental Adjustment to Cancer Scale (Mini-MAC) to assess coping style; the Sickness Impact Profile (SIP), to measure perceived functional limitations; the Life Orientation Test (LOT-R), to assess optimism; and the Benefit Finding Scale (BFS) to evaluate perceived benefits. Hypothesis 1 predicted that psychosocial adjustment would vary along the treatment process, in terms of emotional state, illness perceptions, coping and functional limitations. Hypothesis 2 predicted that women who had a lumpectomy would have a better adjustment (lower levels of anxiety and depression, more adaptive illness perceptions and coping styles, and better perceived functioning) than women who had a mastectomy. Hypothesis 3 predicted that illness representations and emotional state would be significant predictors of coping and perceived functioning, at each time point. Hypothesis 4 predicted that illness perceptions and emotional state, before adjuvant treatment, would be significant predictors of coping and perceived functioning after surgery and during adjuvant treatments. Hypothesis 5 predicted that optimism evaluated prior to surgery would predict psychosocial adjustment after surgery and during adjuvant treatment. Hypothesis 6 predicted that benefit finding would increase during adjuvant treatments (from the middle to the end of treatment), and that benefit finding would be a significant predictor of emotional state, coping and perceived functioning, during adjuvant treatments. Exploratory analyses were conducted to evaluate the impact of socio-demographic variables (age and education) and clinical variables (menopausal status and stage of disease) on the psychosocial variables. Hypothesis 1 was confirmed for most of the psychosocial variables: Depression; most illness representations, such as Treatment Control, Identity, Preoccupation and Comprehension; coping styles, such as Anxious Preoccupation and Cognitive Avoidance; and perceived functioning, such as Personal Care, Household Duties and Sleep. The data indicates that psychosocial adjustment varies during the treatment process. Hypothesis 2 was not confirmed for the majority of variables, with the exception of Comprehension (illness representation) and Leisure (perceived functioning), with better adjustment for women who had mastectomies. Hypothesis 3 was confirmed for most coping strategies and for several categories of functioning, during the stages of treatment. Emotional state and illness representations were significant predictors of psychosocial adjustment, which supports Leventhal´s selfregulatory model, in this sample. Emotional state and illness perceptions were significant predictors of the following coping strategies: before surgery, Helplessnesshopelessness, Anxious Preoccupation, and Fighting Spirit; after surgery, Anxious Preoccupation and Fighting Spirit; and during adjuvant treatments, Anxious Preoccupation. We also found that emotional state and illness perceptions are significant predictors of perceived functional limitations after surgery, in the areas of Locomotion, Mobility, and Social Activities, and during adjuvant treatments, in the areas of Personal Care, Mobility, Alertness and Sleep. Hypothesis 4 was partially confirmed, for both coping and perceived functioning. Emotional state or illness perceptions before surgery are significant predictors of Coping and functionality after surgery; they were joint predictors for Locomotion and Alertness. During the adjuvant treatments, emotional state before surgery is the main predictor of coping. Emotional state and illness representations were only modest and limited predictors of perceived limitations in functioning during adjuvant treatments. The results offer support for Hypothesis 5, which stated that optimism, would predict psychosocial adjustment after surgery and during adjuvant treatments. Optimism was a significant predictor for emotional state, illness perceptions and perceived functioning. Optimism was a direct and indirect predictor, mediated by emotional state. Hypothesis 6 was partially confirmed, with results indicating that Benefit Finding increases with time, and is a predictor of coping, with more Benefit Finding associated with the use of various coping strategies, during adjuvant treatment. The role of Benefit Finding in perceived function limitations is limited and Benefit Finding is not a significant predictor of emotional state during adjuvant treatments. Age and level of education are important variables in adjustment to illness and treatment, younger women and those with less than four years of education presenting with greater psychosocial vulnerability. The clinical variables, stage of disease and menopausal status, only had a limited impact on the psychosocial variables under study. At the end of the Results section, the limitations of the study were discussed concerning its internal and external validity. Finally, we discussed the implications of the results for future research and the development of psychological interventions to facilitate adjustment to breast cancer in Portuguese women. |
Tipo: | Tese de doutoramento |
Descrição: | Tese de Doutoramento em Psicologia - Área de Conhecimento em Psicologia da Saúde |
URI: | https://hdl.handle.net/1822/9809 |
Acesso: | Acesso aberto |
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