Desvios identitários do género: o imaginário e a subversão andrógina

Abstract

A separação entre sexo e género pertenceu, desde sempre, ao imaginário dos indivíduos, materializando-se a diversos níveis socioculturais e científicos. Os mistérios sexuais e seus deleites, o segredo da origem da vida, a incógnita do que há para além da morte, a vontade em entender e posicionar-se perante Universo, o sonho de dominar a Mater Natura à qual pertence, intrigaram e instigaram perpetuamente o Ser Humano. Ascender à Totalidade metaforizada pela ideia de um Deus criador, perfeito, eterno, omnipotente e omnipresente leva ainda hoje o Homem a aventurar-se por trilhos que permanecem desconhecidos e ariscos, na demanda de um Graal que mitigue o absurdo da sua condição finita e imperfeita. A presente investigação, intitulada Desvios identitários do género: o imaginário e a subversão andrógina, assume uma viagem odisseica sem porto de abrigo, cujo itinerário sem fim pretende sobretudo, em jeitos de “kátharsis”, observar de que modo as manifestações do fenómeno androgínico estão presentes, tuteiam e cultivam as plurímas agras que tecem o manto colorido da vida exterior e interior do Homem enquanto criatura que alimenta, continuamente, o espírito no imaginário coletivo - um património ontológico subestimado, que escapa aos limites da lógica pré-estabelecida pelas teias do macrocosmo social. Contrariando a eterna dicotomia entre o Eterno Feminino e o Eterno Masculino, o fenómeno androgínico escarnece a própria “consciência bimodal” (Singer, 1990) do cérebro humano que numa primeira instância o “estranha”, mas consequentemente o “entranha” e espelha em praticamente todas as áreas e manifestações do conhecimento humano, desde a arte, a religião, os mitos, as crenças, as ordens iniciáticas, a psicologia, a biologia, os hábitos sociais e culturais, as novas tecnologias e outras mais. Na sequência desta “progressividade” (Maffesoli, 2013), autêntica Genitrix que acompanha a lei cíclica do universo, ora se alicerçam e fabricam, ora se desmoronam e destroem imagéticas sociais e arquétipos ultrapassados para a novos dar nascimento, gerando concomitantemente novas identidades que perpassam o próprio Arquétipo do Género, tendo tão somente como derradeira finalidade o reencontro de Si-mesmo

The separation between sex and gender has always belonged to the imaginary of individuals, materializing at different sociocultural and scientific levels. Sexual mysteries and their pleasures, the secret of the origin of life, the mystery of what is beyond death, the will to understand and to stand before the Universe, as well as the dream of dominating the Mater Natura to which it belongs, intrigued, and perpetually instigated the human being. As such, to ascend to the totality metaphorized by the idea of a creator God, simultaneously, perfect, eternal, omnipotent and omnipresent still leads humankind to venture along paths that remain unknown, in demand of a Grail that mitigates the absurdity of its finitude and imperfection. The present investigation, entitled Identity Deviations of Gender the imaginary and the androgynous subversion, entails an epic journey without shelter or refuge, whose endless route intends mainly, as a means of “kátharsis”, to observe in what way the manifestations of the androgynic phenomenon are present, cultivating the many fields that weave the colourful mantle of the exterior and interior life of human kind as a creature that continuously feeds the spirit in the collective imaginary - an underestimated existential heritage, which escapes the limits of the pre-established logic by the webs of the social macrocosm. Contrary to the eternal dichotomy between the Eternal Feminine and the Eternal Masculine, the androgynic phenomenon mocks the “bimodal consciousness” (Singer, 1990) of the human brain, which, initially, is the "strange", but, consequently, “absorbs” and mirrors it in practically all areas and human knowledge manifestation. This is reflected in art, religion, myths, beliefs, initiatory orders, psychology, biology, social and cultural habits, new technologies and other. Following this “progressivity” (Maffesoli, 2013), authentic Genitrix that accompanies the cyclical law of the universe, they are grounded and manufactured, but, simultaneously, crumbling and destroying social imagery and outdated archetypes to give birth to new ones, whilst, concurrently, generating new identities that permeate The Gender Archetype, for the sole purpose of the reencounter of the Self-in-itself.

La séparation entre le sexe et le genre a toujours fait partie de l’imaginaire des individus et s’est matérialisée à plusieurs niveaux, socio-culturels et scientifiques. Les mystères sexuels et leurs délices, le secret de l'origine de la vie, l'inconnu de l’au-delà de la mort, le désir de comprendre et de se positionner face à l'univers, le rêve de dominer la Mater Natura à laquelle il appartient, ont sans cesse intrigué et inspiré l’Être Humain. Atteindre la Totalité métaphorisée par l'idée d'un Dieu créateur, parfait, éternel, omnipotent et omniprésent mène encore de nos jours l'homme à s'aventurer sur des sentiers inconnus et dangereux en quête d'un Graal à même d’atténuer la condition absurde de sa finitude et de son imperfection. Cette étude, intitulée Les déviances de l’identité du genre : L’imaginaire et la subversion androgyne, entreprend un voyage odysséen, sans port d’attache, dont l'itinéraire sans fin vise surtout, en guise de “Katharsis”, à observer comment les expressions du phénomène androgyne se manifestent, côtoient et cultivent les divers champs qui composent la panoplie colorée de la vie extérieure et intérieure de l’Homme qui, sans répit, nourrit son esprit de l'imaginaire collectif - un patrimoine ontologique mésestimé qui échappe aux limites de la logique préétablie par les mailles du macrocosme social. Contrecarrant l’éternelle dichotomie entre l'éternel féminin et l'éternel masculin, le phénomène androgyne se gausse de la “conscience bimodale” (Singer, 1990) du cerveau humain qui le considère en un premier temps comme “étrange”, pour finir par “l’incorporer” et faire en sorte qu’il se réfléchisse dans pratiquement tous les domaines et manifestations du savoir humain, de l’art, la religion, les mythes, les croyances, les ordres initiatiques, la psychologie, la biologie, les habitudes sociales et culturelles, aux nouvelles technologies, entre autres. Dans de cadre de cette “progressivité” (Maffesoli, 2013), véritable Genitrix qui accompagne la loi cyclique de l'univers, l’imagerie sociale et les archétypes tantôt s’enracinent et se fabriquent, tantôt, lorsque qu’ils deviennent obsolètes, s’écroulent et se détruisent pour en engendrer de nouveaux, en créant en même temps des identités nouvelles qui surpassent l’Archétype du Genre et n’ont pour finalité ultime que d’aller à la rencontre de Soi.