Influência da película lacrimal na medição da pressão intraocular

Abstract

Atualmente a patologia do glaucoma é a principal causa de cegueira irreversível no mundo, afetando cerca de 80 milhões de pessoas sendo a pressão intraocular (PIO) elevada um dos principais fatores de risco. A superfície ocular é muito complexa, constituída por várias estruturas e tecidos epiteliais e glandulares como a córnea, a conjuntiva palpebral e bulbar e glândulas lacrimais e acessórias da pálpebra. A tonometria é um método que fornece uma estimativa da pressão intraocular, podendo essa estimativa ser afetada pelas propriedades biomecânicas da córnea e pela película lacrimal. Sabe-se que a idade está associada à secura ocular e é um dos principais fatores de risco do glaucoma, logo, é necessário perceber de que forma a película lacrimal impacta na medição da tonometria. Neste trabalho foram utilizados o iCare TA01I (Icare, Finland) e o Reichert Ocular Response Analyzer (ORA; Reichert Ophthalmic Instruments, Buffalo, NY) para a medição da pressão intraocular. Através do ORA obteve-se os valores da PIO correlacionada com Goldman (ORAg) e a PIO com correção medida (ORAcc) e também foi possível avaliar as propriedades biomecânicas da córnea Histerese Corneal (CH) e Fator de resistência corneal (CRF). O Tearscope Plus (Keeler, Windsor, Reino Unido) foi utilizado na avaliação da pelicula lacrimal, nomeadamente na medição do tempo de rutura lacrimal não invasivo (NIBUT) e dos padrões interferométricos da camada lipídica. Para a avaliação da sintomatologia de olho seco foi utilizado o questionário Ocular Surface Disease Index (OSDI). A camada lipídica esteve relacionada com o NIBUT, estando valores de NIBUT elevados associados a camadas lípicas mais espessas. Os padrões interferométricos não se relacionaram com a sintomatologia. Existiram diferenças estatisticamente significativas dos valores da ORAg e ORAcc para os vários padrões interferométricos, não tendo existido essas diferenças na medição da PIO com o iCare. Não existiram correlações da PIO medida com iCare, da ORAg e ORAcc com a avaliação de sintomas através da pontuação no OSDI. A PIO medida pelos vários métodos não teve qualquer relação com NIBUT. As propriedades biomecânicas da córnea estiveram correlacionadas com o OSDI e as suas subclasses, e não tiveram qualquer relação com os padrões interferométricos e o NIBUT.

Currently the pathology of glaucoma is the leading cause of irreversible blindness in the world, affecting about 80 million people and high intraocular pressure (IOP) is one of the main risk factors. The ocular surface is very complex, consisting of various epithelial and glandular structures and tissues such as the cornea, the palpebral and bulbar conjunctiva, and the lacrimal and accessory eyelid glands. Tonometry is a method that provides an estimate of intraocular pressure, and this estimate can be affected by the biomechanical properties of the cornea and tear film. Age is known to be associated with dryness of the eye and is a major risk factor for glaucoma, so it is necessary to understand how the tear film impacts the tonometry measurement. In this study, the iCare TA01I (Icare, Finland) and the Reichert Ocular Response Analyzer (ORA; Reichert Ophthalmic Instruments, Buffalo, NY) were used to measure intraocular pressure. Using the ORA, Goldman correlated IOP (ORAg) and measured corrected IOP (ORAcc) values were obtained, and it was also possible to evaluate corneal biomechanical properties Corneal Hysteresis (CH) and Corneal Resistance Factor (CRF). The Tearscope Plus (Keeler, Windsor, UK) was used for the evaluation of the tear film, namely the measurement of non-invasive tear breakup time (NIBUT) and interferometric patterns of the lipid layer. The Ocular Surface Disease Index (OSDI) questionnaire was used to evaluate dry eye symptomatology. Lipid layer was related to NIBUT, with high NIBUT values being associated with thicker lipid layers. Interferometric patterns were not related to symptomatology. There were statistically significant differences in the ORAg and ORAcc values for the various interferometric patterns, while there were no such differences when measuring IOP with iCare. There were no correlations of IOP measured with iCare, and ORAg and ORAcc with symptom assessment through OSDI scoring. IOP measured by the various methods had no relationship with NIBUT. Corneal biomechanical properties were correlated with OSDI and its subclasses, and had no relationship with interferometric patterns and NIBUT.