“It’s a complicated situation”. Harm in everyday experiences with technology. A qualitative study with school-aged children

Abstract

This qualitative study was guided by two objectives: to understand the personal values and meanings children might use to interpret their technologized lives and, to uncover unintended harmful outcomes that may be (more or less) hidden in children’s everyday digital lives. Recognising children as competent ‘agents in their own right’, a dynamic participatory approach was used to reach the intricacies of the relationships between the participants (a total of 41, mostly girls and aged 10-12) and digital and online technologies in late modernity. Drawing from everyday situations, children’s voices were privileged as the main source of understanding to inform a multi-lens approach drawing perspectives from the sociology of risk, childhood studies, socio-technical studies and Zemiology. The qualitative data generated by participants’ heterogeneous and critical accounts is organized in three key themes: i) digital inequalities, ii) controlling parental control and iii) online participation. The findings provide relevant information to society in general and to families and other agents in charge of the care and education of the child, in particular. Control and agency are central aspects that cut across each key theme and destabilise romantic westernised constructions of childhood that no longer embody the contemporary child. From a harm perspective, evidence in the study suggests that children’s rights can be compromised when digital expectations and needs are not met or collide with digital assumptions taken for granted. Protection and participation rights online are challenged when parents use panoptical and paternalistic strategies that affect children’s decisions, judgements and development. However, the narratives do not exclusively depict the child-victim. Findings insinuate that children are excluding adults’ from their digital lives, based on digital competence, freedom and moral values. Moreover, children are actively engaging in ambiguous behaviours online that include sexual socialization, carelessness, rude and abusive behaviours and criminal practices. Granting access and use does not per se support children to pursue wise and empowering participation online. This thesis concludes that inclusive strategies instead, would enable to enhance children’s digital wisdom, engage generations, strengthen bonds of solidarity, reintegrate adults in children’s lives and encourage children to exercise their agency and individuality within the broader societal framework.

Perceber que valores e significados as crianças utilizam para interpretar as suas vidas tecnológicas e aclarar situações de dano (mais ou menos) encobertas nas experiências digitais das crianças são os dois objectivos que nortearam este estudo. Reconhecendo a criança como um agente social competente, foram utilizadas estratégias participativas que permitiram desenredar as complexidades intrínsecas à relação que desenvolvem com as tecnologias digitais. As suas vozes (maioritariamente de raparigas e idades compreendidas entre os 10-12 anos, num total de 41 participantes) constituem, por isso, a principal fonte de entendimento que enforma este estudo que alinha com contributos teóricos da sociologia do risco, estudos da infância, estudos sociotécnicos e da Zemiologia. Os dados qualitativos gerados pelas narrativas heterogéneas e críticas das crianças foram organizados em três temas: i) desigualdades digitais, ii) controlando o controlo parental e iii) participação online e incluem informação pertinente para a sociedade em geral e para as famílias e outros agentes encarregados do cuidado e educação da criança, em particular. As evidências sugerem que controlo e agência são aspectos-chave que cruzam os eixos temáticos e desestabilizam uma construção social ocidentalizada e romântica da infância, não mais vigente. Os dados lidos numa perspectiva do dano, insinuam que os direitos online das crianças são comprometidos como resultado de: expectativas e necessidades digitais que não são providas ou colidem com pressupostos digitais tomados por garantidos e por consequência de estratégias panópticas e paternalistas dos progenitores. No entanto, as suas narrativas não representam exclusivamente a criança-vítima. Os resultados demonstram que as crianças estão ativamente a excluir os adultos das suas vidas digitais e a envolverem-se em experiências ambíguas. A partir dos seus resultados este estudo conclui que acesso e uso por si só não garantem que as crianças tirem efetivamente partido de uma participação online empoderada e sábia. Em jeito de conclusão, este trabalho realça a importância de promover soluções inclusivas ajustadas ao terreno que permitam promover a sabedoria digital das crianças, envolver gerações, fortalecer laços de solidariedade, reintegrar os adultos na vida das crianças e incentivar as crianças para o exercício da sua agência e individualidade dentro de uma estrutura social mais interdependente.