O comportamento dos alunos de elevado e baixo rendimento a matemática: mapear percursos para promover sucessos

Abstract

A matemática é uma das áreas mais importantes no percurso académico, com impacto nas escolhas vocacionais e na própria gestão pessoal (OECD, 2013), mas também uma das que apresenta resultados mais negativos. De acordo com dados mais recentes (PISA, 2012), Portugal, apesar da melhoria, continua a apresentar no domínio da matemática resultados abaixo da média. Compreender o (ins)sucesso na matemática é, portanto, uma das grandes preocupações de pais, professores, políticos, investigadores e da comunidade em geral. Sob o guarda-chuva da teoria sociocognitiva da aprendizagem autorregulada (Zimmerman, 2000, 2008; Rosário et al., 2007, 2010), este trabalho procura compreender como os alunos percecionam a sua aprendizagem da matemática ao longo do tempo, assumindo uma visão holística dos fatores pessoais, sociais e instrutivos que contribuem para o rendimento académico. Para tal, realizou-se um estudo qualitativo com base em entrevistas a alunos do 9.º ano, provenientes de escolas públicas e privadas do norte do país. Considerando as suas classificações a matemática nos 7.º e 8.º anos, foram identificados 2 grupos, com 10 participantes cada: um com percursos de elevado rendimento e outro com percursos de baixo rendimento. Ao longo de um ano letivo, foram conduzidas entrevistas semiestruturadas em 3 momentos distintos, as quais foram codificadas e analisadas de acordo com o racional teórico e com recurso ao software NVivo 9.0. A partir da análise de conteúdo do discurso, das 14 categorias definidas a priori com base na revisão da literatura, foram identificadas 11 gerais, mencionadas por todos os participantes de ambos os grupos (cf. Hill, 2011): objetivos, autoeficácia, comportamentos na sala de aula, atitudes e comportamentos de estudo, estratégias de aprendizagem, autoavaliação, atribuições causais, envolvimento parental, suporte de pares, relação pedagógica e metodologias de ensino dos professores de matemática. As restantes 3 categorias foram consideradas típicas, uma vez que são referidas por metade ou mais de metade dos alunos nos 2 grupos: interesse, inferências adaptativas e satisfação/afeto. O grupo com percursos de elevado rendimento a matemática relatou detalhadamente as suas competências autorregulatórias. Assim, verbalizou objetivos concretos, elevados níveis de autoeficácia e interesse pela disciplina, alterações aos seus comportamentos de estudo decorrentes da autoavaliação, em consonância com a literatura. O grupo com insucesso reportou um conhecimento declarativo e condicional das estratégias mais forte, por oposição a um procedimental mais frágil. Na linha de estudos prévios, os alunos com percursos de elevado rendimento descreveram um apoio direto da família desde o 1.º ciclo, distinto da realidade percecionada pelos alunos de insucesso, de pais com menos tempo e conhecimentos para ajudar. Este grupo atribuiu as suas dificuldades académicas sobretudo ao baixo controlo volitivo, à falta de apoio dos professores e aos comportamentos disruptivos dos pares. Com a exceção de alguns alunos de sucesso, ambos os grupos admitiram que o seu investimento é guiado pelos momentos de avaliação. Este foco nas classificações foi reforçado pela pressão exercida pelos pais e professores, sobretudo no final do ano, para conseguirem os resultados desejados no exame nacional de matemática. Os resultados, à semelhança de estudos anteriores, indicam que a qualidade das relações com os pares, pais e professores pode influenciar os comportamentos autorregulatórios dos alunos. Investigações futuras poderão aprofundar a análise dos resultados apresentados através da triangulação com outras medidas ou ainda levar a cabo estudos de follow-up. O presente trabalho alerta-nos para a importância de repensar o sistema de avaliação do ensino básico, o papel dos pais e professores na promoção das competências autorregulatórias do aluno, com vista a diminuir as diferenças que separam os estudantes de elevado rendimento dos de baixo rendimento e a alcançar o sucesso na matemática, numa responsabilidade partilhada.

Mathematics is one of the most important areas in one’s academic career, with repercussion on vocational choices and personal management itself (OECD, 2013), but also one that exhibits the most negative results. According to recent data (PISA, 2012), and despite some improvement, Portugal continues to display below average results in mathematics proficiency. Understanding the mathematics (under)achievement is therefore one of the major concerns of parents, teachers, politicians, researchers and the community in general. Under the umbrella of the social cognitive theory of self-regulated learning (Zimmerman, 2000, 2008; Rosário et al., 2007, 2010), this dissertation attempts to understand students’ perspectives of their mathematics learning throughout time, stressing personal, social and instructive factors contributing to academic achievement. In order to do so, a qualitative study based on interviews to 9th grade students, from both public and private schools, located in the North of the country, was conducted. Based on the marks of 7th and 8th grade students in mathematics, two groups were identified, with 10 participants each: one enrolling low-achievers and the other enrolling high-achievers in mathematics. Throughout one academic year, semi-structured interviews were conducted in three different moments, and then coded and analyzed according to the theoretical rationale, using NVivo 9.0 software. Based on a qualitative content analysis, from the 14 categories defined a priori found on the literature review, 11 were identified as general by all the participants of both groups (cf. Hill, 2011): goals, self-efficacy, classroom behavior, study attitudes and behaviors, learning strategies, selfevaluation, causal attributions, parental involvement, peer support, the pedagogical relationship with mathematics teachers and their teaching methodologies. The other 3 categories were considered typical, since they were mentioned by half or more than half of the students in both groups, namely: interest, adaptive inferences and satisfaction/affection. The mathematics high-achievers group reported in detail its self-regulatory skills. They described concrete goals, high levels of self-efficacy and interest in the subject, changes in its study behaviors resulting from its performance self-evaluation, in accordance with the literature. The low achievers group reported a stronger declarative and conditional knowledge of the strategies, in opposition to a more fragile procedural one. In line with previous studies, high-achievers described a direct support from their families, since elementary school, something different from the perception of the low-achievers, whose parents displayed less time and knowledge to help. This group justified its academic difficulties mainly to its low volitional control, to the lack of teachers’ support and to the peers’ disruptive behavior. With the exception of a few high-achievers, both groups admitted their academic investment is guided by the assessments. This focus on grades was reinforced by parental and teacher pressure, especially at the end of the year, to achieve the desired results in the national mathematics exam. The results help to confirm previous studies indicating that the quality of the relationships with peers, parents and teachers can influence the students self-regulatory learning behavior. Future research may help to deepen the analysis of the results presented through the triangulation with other measures or even carry out a follow-up study. This work alerts to the importance of rethinking the middle school assessment system, the parents’ and teachers’ roles in promoting students self-regulatory skills in order to decrease the gap between low- and high-achievers and reach academic success in mathematics, in a shared responsibility.